Gustave Flaubert e o pioneirismo em Madame Bovary
- Alana Marin
- 11 de jul. de 2023
- 2 min de leitura

Gustave Flaubert (1821-1880) foi um escritor francês que entrou para a história da literatura ocidental, venceu a censura e bateu recordes de vendas em vida. Tudo isso devido ao seu romance Madame Bovary.
Madame Bovary, publicado originalmente no ano de 1856, conta a história de sua personagem título: Emma Bovary. Uma mulher sonhadora e romântica que se casa com Charles, um médico provinciano resignado e sem grandes ambições. Emma logo se vê entediada e infeliz com a vida de casada. Tudo que havia lido nos livros de romances era mentira. Desesperada para sair da monotonia, ela vai atrás das grandes aventuras amorosas que leu nos livros. Assim começa os casos extraconjugais de Madame Bovary.
Enquanto pesquisava um pouco mais sobre o livro, me deparei mais de uma vez com a expressão “Dom Quixote de saia”, referindo-se ao fato de Emma procurar sua felicidade no amor irreal e fantasioso das histórias de amor, ao invés de procurar felicidade no que tinha. Emma não enlouquece de fato como aconteceu com Dom Quixote. Ela tem consciência de tudo que faz e do que é verdade, mas a todo custo, procura fugir da sua realidade. Enfeitiçada pela concepção da paixão idealizada, ela se envolve com amantes mal escolhidos e gasta dinheiro de maneira descontrolada a fim de suprir sua necessidade de luxos que sua vida atual não poderia lhe dar. O declínio moral e financeiro culmina em seu suicídio.
A obra levou cinco anos para ser concluída. Com cada linha cuidadosamente escrita, sempre à procura da “palavra certa”. Foi Flaubert quem começou na literatura o uso do discurso indireto livre como estilo narrativo. Construiu romances realistas analisando psicologicamente as personagens sem julgamentos. Expos também sobre comportamentos sociais que antes não eram abordados na literatura, como o adultério e o suicídio.
Mesmo existindo mulheres adúlteras na época, elas nunca eram retratadas dessa maneira na literatura. Eram sempre seres doces, comportados e sem desejos. Ao criar uma heroína romântica independente e luxuriosa, Flaubert quebra paradigmas e alfineta onde doía mais na sociedade de seu tempo: as aparências.
Em nenhum momento Flaubert escandalizou descrevendo cenas obscenas. Muito pelo contrário, tudo era muito sutil. As indiscrições de Emma Bovary com seus amantes foram escritas de maneira implícita, mas de modo que ficasse claro o que ocorria. Mostrar o depois do “felizes para sempre” levou Flaubert e sua obra para o tribunal sob acusação de imoralidade, da qual foi absolvido.
Gustave Flaubert deixou seu legado em Madame Bovary. Ele foi um dos mestres do Realismo. Sua obra se caracteriza pelo cuidado na sintaxe, na escolha do vocabulário e na estrutura do enredo. Flaubert conseguiu levar para o patamar de perfeição a ideia de harmonizar arte e realidade. Hoje é considerado como um dos grandes romancistas de seu século.
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