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Monólogo — fragmento retirado da peça "Cemitério das Flores Azuis" (2022)

[...] Após o incidente com a porcelana, eu precisei de dois pontos, mas não queria que ele

estivesse por perto então foi Camila que me acompanhou até o hospital. Passado os dois

dias eu não aguentava mais e queria me desculpar com Matheus. Eu tinha planejado “A

Noite”. Escolhi um dos meus melhores vestidos e comprei uma lingerie novinha. Até ensaiei

o que ia dizer. Diria que o amava, que odeio brigar e que gostaria de remarcar nosso

casamento para Agosto como queríamos antes. Era uma surpresa, eu iria encontrá-lo

depois do trabalho. Acontece que a surpresa foi toda minha.


Da esquina de onde ele trabalha eu o vi saindo do escritório direto para os braços dela. Ele

a beija e a beija de novo e ela o beija de volta. Eles sorriem entre os beijos e ele segura o

rosto dela com as duas mãos. Não consigo ouvi-los, mas os lábios dele se mexem e eu sei,

eu sei exatamente o que ele está dizendo a ela.


Você é a mulher mais linda do mundo.

Ela sorri

e o beija.

Os dois saem.

Saem no carro dela.


Ela o esperou depois do trabalho como eu ia fazer (bate no peito). E como eu sei? Era o

que ele dizia para mim. Era como ele agia comigo. (pausa. ANA está enojada) Matheus era

tão preguiçoso que foi caçar a amante dele dentro da minha casa. Podia pelo menos ser

mais criativo nas falas. Acho que se Matheus tivesse me traído com uma qualquer, eu

poderia seguir em frente mais fácil. Não tenho mais tanta raiva dela, mas é uma mágoa sem

tamanho.


(Senta-se).


Eu penso sempre como as coisas poderiam ter sido se naquele momento eu tivesse gritado

e batido neles, dado uma de louca. Mas eu não consegui fazer nada. Eu queria mesmo ir

até lá gritar que descobri tudo, mas eu não consegui dar um passo, minha boca nem se

mexia para dizer uma palavra. Estava pregada no chão, absorta em choque e decepção.

(pausa) Eu não pensei em deixá-lo. Eu não podia, eu não tinha mais ninguém. Aliás depois

de ter descoberto tudo o que eu mais desejava era não ter sabido de nada. Quanto mais eu

descobria, mais eu chorava, mais eu me escondia, mais eu me culpava. [...]

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