Dia Perfeito
- Alana Marin
- 25 de ago. de 2022
- 2 min de leitura
Lembro-me exatamente daquele dia. Era terça-feira, o dia estava quente, parecia um desperdício não aproveitar um céu tão azul. Estava muito infeliz aquela manhã com a ideia de ter que ir para escola. O tédio se adiantava só de pensar em estar em aula. Uma terça-feira quente dessas, a praia certamente estaria vazia… eu poderia… ninguém iria saber. Não… mamãe iria saber. Minha mãe sabe de tudo. Mas eu poderia dizer que peguei o ônibus errado por acidente. A praia nem era longe, eu poderia voltar na hora de sempre. Melhor não. Mamãe iria saber.
Tentei tirar a ideia da minha cabeça junto com os nós dos cabelos. Mas por quê matar aula parecia ser tão tentador? Uma escapadinha não ia matar ninguém, certo? Cheguei no ponto tentando manter a calma. Eu não tinha feito nada de errado ainda. Por que parecia que todo mundo estava me olhando? De longe vi o 174 chegando, o ônibus da praia. Meu Deus, que frio na barriga. Dei sinal. Sentei no fundo do ônibus como uma criminosa. Mais próximo da praia, o cheiro do mar fez tudo valer a pena. O frio na barriga tinha mudado, agora me sentia livre como uma aventureira.
Olhei as vitrines das lojas, experimentei chapéus e óculos de sol. Na areia, caminhei descalça o tempo todo. Molhei os pés na água salgada, senti a brisa vinda do horizonte. Comprei sorvete baunilha antes de voltar para casa. Não pude ficar para ver o pôr do sol, tinha que estar de volta antes de escurecer. Me despedi daquele dia perfeito pela janela do ônibus, assistindo aquela luz alaranjada sumir entre os prédios e telhados.
Em casa, mamãe quis saber se eu tinha me divertido, respondi que sim, que o dia não havia sido tão tedioso. Ela me mandou tomar banho antes do jantar. Estava fazendo o meu favorito: arroz, feijão-roxinho e molho de batatinhas. Obedeci. Então um pouco mais afastada da cozinha percebi que minha mãe não estava cantando acompanhada do rádio naquele dia. Ela sabia.
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